Medical error-the third leading cause of death in the US
Martin A Makary, Michael Daniel
British Medical Journal Vol. 353 Nr. 8056 Página: i2139 - Data da publicação: 07-05-2016
Neste estudo, o Erro Clínico (EC) – que inclui as IACS - foi identificado como a terceira causa mais frequente de morte, logo a seguir a doenças cardiovasculares e as doenças oncológicas.
No entanto, não é fácil obter informação rigorosa e transparente a partir das certidões de óbito (CO) porque, nos Estados Unidas da América, estas baseiam-se nos códigos da International Classification of Diseases (ICD) que não englobam o registo de erros humanos ou sistémicos. De acordo com a OMS, este sistema ICD é utilizado em 117 países, incluindo Portugal, como base das suas estatísticas de mortalidade.
Neste estudo, os investigadores basearam-se em quatro estudos que analisavam as taxas de mortalidade de 2000 a 2008. Em seguida, recorrendo às taxas de internamento hospitalar de 2013 e extrapolaram os resultados dos estudos analisados para os 35.416.020 internamentos hospitalares ocorridos em 2013, concluindo que 251.454 teriam tido como origem um EC o que representa 9,5% das mortes ocorridas em cada ano nos EUA e coloca o EC acima das doenças respiratórias que é considerada a terceira causa mais frequente de morte.
Esta nova estimativa é consideravelmente mais elevada do que a referida no relatório do Instituto de Medicina intitulado “To Err is Human” (errar é humano) divulgado em 1999. Os autores consideram que os dados em que esse relatório se baseava eram limitados e já estarão desactualizados.
Os autores propõem algumas alterações para uma melhor identificação do problema:
1. Começar por dar maior visibilidade ao erro clínico para que os seus efeitos possam ser melhor compreendidos porque, actualmente, as discussões sobre o assunto dão-se em fóruns limitados e confidenciais.
2. Alterar a informação contida nas CO acrescentando um campo extra para indicar se teria havido uma complicação evitável nos cuidados e que possa ter contribuído para a morte.
3. Sugerem, ainda, que cada morte ocorrida no hospital deve ser objecto de uma investigação rápida e eficiente para determinar se poderá ter havido um EC, recorrendo p.ex. a uma análise de causa raíz.
Será evidentemente necessário padronizar a colheita de dados e os métodos para os reportar.
Os autores concluem que o erro humano é inevitável mas que a “forma de o medir pode ser melhorada a fim de se desenhar sistemas mais seguros para mitigar a sua frequência, visibilidade e consequências”. Chamam ainda à atenção que a maioria dos EC não se devem a maus profissionais mas antes devido a falhas dos sistemas pelo que não devem ser abordados de forma punitiva ou com procedimentos legais.
Sendo a terceira causa mais frequente de morte nos EUA, justifica-se que seja dado prioridade a recursos para a investigação deste tema. Este estudo foca-se apenas nos doentes internados nos hospitais.
Este artigo sugere-nos que, no nosso país, se poderia sistematizar o registo de IACS (e outros erros clínicos) no processo clínico do doente e que isto fosse incluído na nota de alta de forma a poder ser codificado. No que se refere às Certidões de Óbito, como se trata de um sistema internacional, teríamos que aguardar que se crie um código apropriado para o seu registo. Também seria bom que se dedicasse mais atenção ao problema nomeadamente no financiamento de estudos de investigação.